O que é o Estrabismo?

O Estrabismo é um tipo de disfunção binocular, na qual não existe alinhamento entre os olhos. Basicamente, os dois olhos não apontam para a mesma região do espaço. Isto pode acontecer sempre e, neste caso, é chamado Estrabismo Constante. Quando acontece só de vez em quando (especialmente quando o paciente está cansado ou doente) é denominado Estrabismo Intermitente.

O que causa o Estrabismo?

Vários fatores podem causar Estrabismo. Pode ter origem genética, pode resultar do desenvolvimento inadequado do cérebro, pode ser provocados por lesões nos músculos ou nervos, etc. No entanto, a maioria dos casos de Estrabismo não resultam de um problema muscular, mas sim de problemas no sistema de controlo - o cérebro.

O que faz o Estrabismo?

Podem acontecer 3 coisas, se uma pessoa não tem os dois olhos alinhados:

  • Ver a dobrar (diplopia), porque os dois olhos não apontam para o mesmo sítio.
  • Pode suprimir ou desligar no cérebro um dos olhos para não ver a dobrar (supressão).
  • O cérebro pode desenvolver uma nova relação entre os olhos, para que ocorra fusão, mesmo que os olhos não estejam apontados para o mesmo sítio. Este último fenómeno é conhecido como correspondência retiniana anómala. Ela ocorre nos primeiros anos de vida e, quase nunca vai ocorrer, se o Estrabismo se desenvolve depois dos quatro anos de idade.

Quais são os sintomas do Estrabismo?

Qualquer Estrabismo pode ser psicologicamente nocivo e afetar a autoestima, já que interfere com o contato visual normal com os outros, muitas vezes causando constrangimento e embaraço. Para além disso, os Estrabismos Constantes (um dos olhos está sempre desviado), os Intermitentes (um dos olhos desvia temporariamente) ou Alternantes (cada olho desvia alternadamente) dão origem a sintomas radicalmente diferentes:

Um Estrabismo Constante raramente causa sintomas visuais, já que o cérebro não faz qualquer esforço para alinhar os olhos. Apenas vai existir Ambliopia, normalmente profunda, no olho que está sempre desviado.

Um Estrabismo Intermitente ou Alternante tipicamente provoca sintomas como:

Visão dupla; Dores de cabeça; Dificuldade de concentração; Falta de atenção; Perda de lugar na leitura (uso do dedo quando lê); Olhos pesados; Cerrar ou esfregar os olhos; Fecho de um dos olhos; Enjoos; Palavras parecem mover-se, saltar ou flutuar.


Todos os Estrabismos são um obstáculo à visão binocular normal, impedindo ou reduzindo significativamente a capacidade do paciente para usufruir de Estereopsia.


O que é a Estereopsia?

A Estereopsia resulta da combinação das duas imagens recebidas de cada olho, processadas pelo cérebro. Cada olho vê o mundo a partir de um ponto de vista ligeiramente diferente. A fusão destas duas imagens ligeiramente diferentes - das nossas duas "câmaras" (os olhos) - dá-nos a forte sensação de tridimensionalidade ou profundidade relativa.

Ao perto, existe uma maior diferença entre o que os dois olhos vêem em comparação com longas distâncias, sendo que a Estereopsia é mais forte e mais importante a curtas distâncias. É ao perto que o Homem necessita da coordenação olho-mão mais precisa, para fazer ferramentas e realizar as mais variadas tarefas do dia a dia.

A Estereopsia tem sido muito importante no desenvolvimento humano. Perceção de profundidade exata e precisa tem permitido ao Homem o desenvolvimento de ferramentas e a criação de produtos, um aspeto central da civilização moderna. A Estereopsia desempenha um papel fundamental em muitas outras atividades humanas (na área desportiva, em tarefas do quotidiano como a estacionar um carro ou enfiar a linha num buraco de agulha, em trabalhos profissionais como realização de cirurgias, ou qualquer outra atividade que implique a perceção de profundidade exata em curtas distâncias).

Os animais que têm os olhos na posição lateral e os indivíduos que têm Estrabismo Constante, não têm Estereopsia. Isso não significa que eles não tenham absolutamente nenhuma perceção de profundidade. Existem muitas pistas de perceção de profundidade monoculares (que só requerem 1 olho), que permitem fazer julgamentos de profundidade razoavelmente precisos. Estas pistas monoculares de perceção de profundidade incluem: perspetiva, sobreposição, sombras, movimento relativo, tamanho relativo, etc.

As pistas dependentes da  visão binocular (que usam os dois olhos), tais como Estereopsia e Paralaxe, são dependentes de um alinhamento preciso dos olhos e da unificação apropriada das duas imagens pelo cérebro. As pessoas que dependem das pistas de perceção de profundidade monoculares, podem-se safar em muitas situações, mas existem muitas profissões que dependem fortemente da visão binocular e, por conseguinte, lhes estão vedadas por natureza (como é o caso dos motoristas profissionais, arquitetos, dentistas, cirurgiões, etc.).

A falta da perceção binocular de profundidade rouba a uma pessoa  mais do que, apenas, a possibilidade de ser cirurgião ou dentista, ela diminui a qualidade de vida, bem como opções de vida. Alguns especialistas de visão podem dizer-lhe que é um luxo, mas na realidade é parte integrante da nossa evolução e potencial humano.


A visão 3D é uma capacidade humana que todos nós queremos e merecemos. Todo o esforço deve ser empreendido para desenvolver esta habilidade visomotora na criança e também não é tarde demais para muitos adultos!


Por que o meu especialista de visão diz que é "tarde demais”?

Sempre que um especialista de visão diz que é "tarde demais" para tratar a perda de visão binocular (ou da Ambliopia) do seu filho, estará  provavelmente a referir-se à noção de "período crítico". Esta ideia surge nos anos 60 do século passado, com os estudos de dois Prémios Nobel (Hubel and Wiesel) sobre o desenvolvimento da visão em gatos e macacos que têm visão estereoscópica similar à dos humanos. No entanto, o nosso conhecimento sobre o cérebro e sobre a sua capacidade para se reorganizar, formando novas conexões neurais ao longo da vida, têm evoluído muitíssimo desde 1960. Não deixa de ser verdade que a melhor possibilidade de sucesso na eliminação dos efeitos das condições mais difíceis (Ambliopia e Estrabismo Constante), ocorre antes dos dois anos idade. No entanto, isto não impede taxas de sucesso excelentes em muitos pacientes mais velhos, e pelo menos um sucesso parcial na maioria dos pacientes com mais de 6 anos de idade. Existem numerosos estudos que demonstram que o tratamento, depois dos 6 anos de idade, é muito bem sucedido.

Qual o tratamento do Estrabismo?

Dependendo do tipo de Estrabismo, existem dois tratamentos possíveis, Cirurgia e Terapia Visual,  que podem ser usados isoladamente ou em conjunto.

1- Cirurgia

O cérebro dirige e controla os olhos e a cirurgia aos músculos extra-oculares não é uma cirurgia cerebral. Cortar e mover os músculos do olho não vai mudar automaticamente o cérebro, ou os sinais que ele envia para os músculos dos olhos. É, por isso, que muitas vezes os olhos do paciente voltam a desviar após a cirurgia. Nessa altura, frequentemente o cirurgião recomenda uma repetição da cirurgia. É importante compreender que, embora a cirurgia aos músculos extra-oculares possa melhorar a aparência estética, não vai necessariamente melhorar a visão.

Os pais ou o paciente adulto precisam ser informados com antecedência que um bom alinhamento cosmético, muitas vezes,  só é alcançado após terem sido realizados dois ou três procedimentos cirúrgicos. Quanto ao ganho ou recuperação da visão normal (cura binocular), os pais ou o paciente adulto necessitam  saber que se - após a cirurgia - os dois olhos estão quase alinhados, mas não perfeitamente alinhados, eles ainda não se encontram aptos a trabalhar em conjunto. Quando se equaciona a cirurgia, é fundamental perceber se o objetivo será de os olhos parecerem mais alinhados ou se o objetivo é que eles funcionem melhor juntos. Ou dito de outro modo, quais são as probabilidades da cura cosmética e da cura funcional.

A idade é um fator fundamental para se determinar se é apropriado fazer, ou não, a cirurgia. Ela será, por exemplo,  altamente recomendada para uma criança com menos de 2 anos de idade e com um Estrabismo Constante, pois nestes casos, pode ser possível uma verdadeira recuperação da visão binocular.

Para outros tipos de Estrabismo (especialmente Intermitentes), não permita que um cirurgião se precipite para a cirurgia com base no argumento da idade.

Os dados mostram a partir dos 2 anos de idade, que os resultados da melhoria cosmética não são muito diferentes, pelo que a partir dessa idade não há nenhum motivo para ter pressa na realização da cirurgia. Sendo assim recomendável a busca de uma segunda opinião (de preferência com um optometrista que ofereça Terapia Visual, já que esta tenta fazer mais do que simplesmente endireitar a aparência dos olhos).

Os cirurgiões são especialistas em cirurgia e frequentemente só se preocupam com a aparência estética e não providenciam todas as opções de tratamento, nomeadamente as que tentam obter a cura funcional.


Em muitos casos o tratamento ideal passa por uma combinação de Terapia Visual com Cirurgia.


2- Terapia Visual

A Terapia Visual lida com as duas componentes do sistema visual, ou seja, a parte motora (que faz com que os dois olhos apontem com precisão) e a parte sensorial (a capacidade de unificar as duas imagens numa imagem 3D no cérebro).

Uma pessoa deve ter controlo motor e alinhamento, de modo a fazer com que os olhos vejam corretamente. Existe amplo suporte científico para a eficácia da Terapia Visual no tratamento de Estrabismos.

4 razões para considerar primeiro a Terapia Visual e não a cirurgia:

1- As probabilidades de melhoria funcional da visão são muito maiores com a Terapia Visual;

2- Há sempre fatores de risco associados com a cirurgia;

3- A Terapia Visual não é invasiva;

4- Com a cirurgia podem ser necessárias mais operações.